quinta-feira, 3 de outubro de 2019

O Polêmico Nome de Bambuí


Rua José Augusto Chaves - Matriz antiga - fundo
Década de 20 - Bambuy (Com "Y" apenas)
Estação Ferroviária - Bambuí com "HY"
Em meu livro ‘Bambuí nas Trilhas da Picada de Goiaz’, dediquei um capítulo para desvendar o verdadeiro significa do nome Bambuí: “rio dos bambus”, “rio das águas sujas”, “rio das borboletas”, “rio dos gravetos torcidos”, “rio que corre na planície”.
                Bambuí talvez seja a cidade brasileira cujo nome tenha mais significados. E, quando o nome de uma cidade tem vários significados, pode ser que nenhum destes seja o verdadeiro. Todos esses nomes acima foram levantados pelo professor Nelson de Senna, publicado no jornal bambuiense “O PHAROL” em oito de maio de 1921. São vários os significados podendo significar que nenhum deles defina realmente o que seja BAMBUI, BAMBOI, BAMBUHY, BAMBUY ou BAMBUÍ. As grafias antigas do arraial como ocorre no mapa elaborado por José Joaquim da Rocha em 1780 encontramos duas grafias: O rio é Bambui e o arraial é Santa Anna do Bamboi.
            O professor Waldemar de Almeida Barbosa no seu livro Negros e Quilombos em Minas Gerais (pág.50) quando fala de um dos quilombos existentes aqui na região se refere ao Quilombo do “Mamboi”. Às vezes esse mesmo quilombo recebia o nome de “Mammoí”. Note-se que não era comum grafar o nome do rio ou do arraial com a terminação “hy” ou com “y”. A grafia acrescida de “hy” ou com “y” passou a ser comum no século XX
muito provavelmente após alguma reforma ortográfica (entre 1907 e 1996 o Brasil firmou com países de língua portuguesa –CPLP- nada menos que 14 tratados ou acordo ortográficos). Na língua tupy o sufixo “hy” ou simplesmente “y” significa “água”, “rio”. Ocorre que os índios caiapós não falavam a língua tupi ... Segundo o colega Tarcísio J. Martins “Um verdadeiro indianismo mineiro não falaria tupi ou guarani. Falaria as línguas botocudas, jês ou tapuias dos verdadeiros índios que até hoje habitam nossa terra mineira e que ninguém tem se preocupado em ajudar na demarcação de suas terras e na preservação de sua cultura e sua língua”129. Entretanto, é um mistério o fato de algumas cidades da região terem a origem de seus nomes ligadas à linguagem tupi-guarani, como por exemplo: Araxá, Piumhi e Iguatama, entre outras. A explicação para essa questão pode estar ligada ao tupiniquismo.
                A mudança ortográfica que alterou a grafia de Bambui para Bambuhy induziu muitos historiadores ao erro acreditando estes que o significado do nome tem origem indígena. Quem teria, então, batizado a região? Quando o primeiro ou os primeiros homens brancos tomaram o rumo dessa região, em 1720, o nome já era conhecido. Um dos quilombos existentes tinha nome muito próximo da grafia atual: Mamboi. Como desambiguar esse “imbróglio” de um nome de uma cidade ter vários significados? A explicação pode estar bem longe daqui. Mais precisamente na África Ocidental em um país chamado Camarões. No Noroeste, no departamento de Mezam, cuja capital é Bamenda existe uma tribo ou comunidade com aproximadamente dez mil pessoas (1983) com o nome de Bambui (coordenadas: 6° 3' 0" N, 10° 14' 0" E )132 e que falam dois dialetos: Bambili e Bambuí. Esses dialetos têm derivações: Bambili deriva para Mbili, Mbele e Mbogoe e Bambuí deriva para Mbui. Retornemos ao nome do quilombo Mamboi. Mesmo não sendo especialista em linguística, percebemos que a derivação nos dois dialetos substitui a letra “B” pela letra “M” como grafado no nome do quilombo. Como explicar, então essa coincidência de existirem duas Bambuís? A única diferença ortográfica é que a Bambuí de Camarões não tem o acento agudo no “i”. A explicação mais plausível e que explica a origem do nome é que a região foi batizada pelos negros quilombolas que vieram como escravos dessa região homônima. Não era incomum, os negros quilombolas batizar sua nova terra com nomes dos lugares de onde foram sequestrados na África, conforme provamos em nosso livro.
                Resumindo: Quem nomeou o quilombo que nomeou o rio e que depois nomeou o Arraial de Sant”Anna do Bambuí, foram os negros africanos e não os índios Caiapós.
*Publicado no jornal Ponto de Vista de 10-06-2011.
No mapa de José Joaquim da Rocha-1780- o Rio era Bambui e o arraial S. Ana do Bamboi